Page images
PDF
EPUB

E, entre tulles volantes, noite e dia, o alado torvelim

vertiginosamente rodopia,

numa elasticidade de Arlequim!

Vêm coroadas de rosas, num remoinho cambiante de ouro em pó:

cada rosa, que esconde o seu espinho, dura um minuto só.

Sessenta rosas, vivas como brazas, traz cada uma; e, ao bater

da talagarça diaphana das azas, põem-se as corôas a resplandecer...

A' proporção que gira á minha frente o bailado fugaz,

cada grinalda, vagarosamente,

aos poucos, se desfaz.

E quando as doze dançarinas, feitas de plumas, vão recuar,

levam as frontes, claras e perfeitas, circumdadas de espinhos, a sangrar...

Assim, depois que a extranha sarabanda na sombra se dilúe,

penso, vendo o outro bando que ciranda em torno do que fui,

que ha uma alma em cada gesto e em cada passo das horas que se vão:

pois fica a sombra de seu véo no espaço,

fica o silencio de seus pés no chão!...

"ARS AMANDI”

I

A

NTES que venha a bem amada, fecha

tua janella azul, para que o sol não corra pela sala, veloz como uma flecha,

e, ferido de luz, o teu amor não morra.

Não que devas temer vel-a: onde estejas no teu sonho, no mundo, ante Deus, entre o povo nunca a verás demais por mais que a vejas, porque tudo que é bello é eternamente novo!

Fecha a tua janella, para teres,

como o olhar se habitúa á treva pouco a pouco, mais demorado o gosto dos prazeres,

mais lenta a percepção do teu desejo louco.

Corta os fios de sol, apaga-os, vence-os! Quando a amada entrar lenta e coroada de flores, hão de rodeal-a as luzes e os silencios,

as penumbras e os sons, os perfumes e as cores!

II

Quando chegar a bem amada, faze

com que ella mesma, pouco a pouco, te convença, pelo olhar, pelo gesto, pela phrase,

que é uma nova mulher que te procura! Pensa

« PreviousContinue »